quinta-feira, 23 de abril de 2020

O LIVRO E O ENIGMA AFRICANO...




(Enigma africano - uma leitura possível)


Como diz o Padre António Vieira: "O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive."

O livro, esse amigo cúmplice que abre os nossos horizontes ao mundo das palavras e das imagens. O livro que podemos preservar nas nossas prateleiras e nas nossas memórias e manusear com as nossas mãos; ver com os nossos olhos; cheirar, o seu cheiro a bafio ou a folhas saídas das impressoras, com o nosso nariz... Enfim, desafiar os nossos sentidos de quem gosta de o sentir fisicamente. O livro que nos permite ter as mais diversas perspectivas sobre os mais diversos assuntos mas que, acima de tudo, nos preenche um vazio que vive de ilusões, de poesia, de realidades e dos conhecimentos de outras gentes, outros povos, outros tempos, outras vivências versando um sem número de assuntos que nos enriquecem interiormente.  

Ler um livro é entrar na vida de outros que refletem na nossa própria vida. A leitura de um livro pode ser uma viagem no tempo, das ilusões, da realidade boa ou má, conforme a nossa interpretação e estado de espírito. 

De facto, os livros no seu discurso, são aplaudidos por muitos e, mesmo por milhões, ao longo das gerações; enquanto que também podem ser repudiados, perseguidos e queimados por outros tantos. Grande parte, têm poucos ouvintes e ficam confinados aos espaços de alguma casa, gráfica ou alfarrabista... Livros!... Esses oradores silenciosos que se deixam fazer ouvir ou ficam calados, até que alguém os consiga compreender, já que a sua oratória é tão complexa, aparentemente vazia, ou ainda tão à frente no seu tempo... só que há os que podem ser redescobertos por alguém que os ouça e os possa compreender saídos de uma qualquer prateleira ou baú.

Os livros são cegos que nos ajudam a ver para além do horizonte. Esses cegos de nascença abrem-nos os olhos para mundos belos e misteriosos, para os horrores provocados pelo Homem tanto em tempo de guerra como de paz, deixando-nos ver até aquilo que não deveríamos, ou que nos é proibido... Abrem-nos também os nossos horizontes para além dos nossos muros, do nosso pequeno espaço ou do nosso umbigo, para além de nos deixar ver para dentro de nós.

Os livros também são surdos, mas ouvem as preces de quem tem a sua Fé; ouvem as vozes de quem mesmo em silêncio, neles encontra o seu caminho, a paz ou a guerra, o conforto... e são os aliados, de quem neles deposita toda a sua confiança, ou de quem para os compreender melhor os tem que ler em voz alta.


Sem dúvida, de que os livros são mortos que ficam nas prateleiras podendo ter uma morte prematura logo à nascença, permanecendo cegos, surdos e mudos para sempre. Mas, há os livros  que ressuscitam, nas mãos de quem os redescobriu e os traz à luz da vida para que nos deixem as suas marcas, sejam elas boas ou más, e os possamos seguir ou, simplesmente, pôr à prova o nosso sentido crítico, quanto aos valores que eles nos trazem e, de novo, são postos de pé.




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