sexta-feira, 8 de novembro de 2019

DA FILIPA PARA O AVÔ







Os anos passaram. A Filipa cresceu. O Avô "partiu"... Fomos encontrar, entre as coisas que ele deixou, este poema que ela escreveu em Inglês e ele tão cuidadosamente traduziu:



"A água corre sem destino; e os seixos cantam quando ela passa.
      Eu posso ouvir

O Sol está-se a pôr, alaranjado; e as árvores mantêm-no suspenso.
          Eu consigo ver

Um pequeno esquilo corre algures; e uma raposa persegue-o.
          Eu consigo entender



Chegou uma brisa suave com um aroma doce.
          Eu posso cheirar



Um desvairado pássaro azul veio descansar no meu ombro.
          Eu posso senti-lo

Alguém, lá fora, está cantando uma canção de amor; deve ser uma criancinha.
          Eu posso imaginar

Um pequeno ouriço aproximou-se com uma perna partida, pedindo ajuda.
          Eu posso cuidar dele

Um coelhinho aproximou-se, quando eu dormia, sentou-se no meu regaço e beijou-me na mão.
          Eu consigo amar

Uma grande flor amarela, como eu nunca vira antes, está a olhar-me fixamente.
          Eu posso tocá-la suavemente

Um homem grande aproximou-se, com uma arma e matou todo o meu conjunto:
          Ele parou a água e os seixos; cortou as árvores e deixou o Sol pôr-se; ele matou a raposa, o esquilo, o coelho, o pássaro, o ouriço... Ele parou a brisa e o aroma doce. Ele esmagou a minha flor amarela...
          Ele era a criancinha que eu imaginara...
          Isto?... Eu não consigo compreender..."





(Da Filipa para o Avô - 1997)






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