Os anos passaram. A Filipa cresceu. O Avô "partiu"... Fomos encontrar, entre as coisas que ele deixou, este poema que ela escreveu em Inglês e ele tão cuidadosamente traduziu:
"A água corre sem destino; e os seixos cantam quando ela passa.
Eu posso ouvir
O Sol está-se a pôr, alaranjado; e as árvores mantêm-no suspenso.
Eu consigo ver
Um pequeno esquilo corre algures; e uma raposa persegue-o.
Eu consigo entender
Chegou uma brisa suave com um aroma doce.
Eu posso cheirar
Um desvairado pássaro azul veio descansar no meu ombro.
Eu posso senti-lo
Alguém, lá fora, está cantando uma canção de amor; deve ser uma criancinha.
Eu posso imaginar
Um pequeno ouriço aproximou-se com uma perna partida, pedindo ajuda.
Eu posso cuidar dele
Um coelhinho aproximou-se, quando eu dormia, sentou-se no meu regaço e beijou-me na mão.
Eu consigo amar
Uma grande flor amarela, como eu nunca vira antes, está a olhar-me fixamente.
Eu posso tocá-la suavemente
Um homem grande aproximou-se, com uma arma e matou todo o meu conjunto:
Ele parou a água e os seixos; cortou as árvores e deixou o Sol pôr-se; ele matou a raposa, o esquilo, o coelho, o pássaro, o ouriço... Ele parou a brisa e o aroma doce. Ele esmagou a minha flor amarela...
Ele era a criancinha que eu imaginara...
Isto?... Eu não consigo compreender..."
(Da Filipa para o Avô - 1997)
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