domingo, 29 de novembro de 2015

"DE QUEM É O OLHAR?" __ Poema de Fernado Pessoa



 
Desenho a caneta inspirado em trabalho do Pinterest 
(Malay - 27/11/15)


De quem é o olhar
Que espreita por meus olhos?
Quando penso que vejo,
Quem continua vendo
Enquanto estou pensando?
Por que caminhos seguem,
Não os meus tristes passos,
Mas a realidade
De eu ter passos comigo ?

Às vezes, na penumbra
Do meu quarto, quando eu
Por mim próprio mesmo
Em alma mal existo,

Toma um outro sentido
Em mim o Universo —
É uma nódoa esbatida
De eu ser consciente sobre
Minha ideia das coisas.

Se acenderem as velas
E não houver apenas
A vaga luz de fora —
Não sei que candeeiro
Aceso onde na rua —
Terei foscos desejos
De nunca haver mais nada
No Universo e na Vida
De que o obscuro momento
Que é minha vida agora!

Um momento afluente
Dum rio sempre a ir
Esquecer-se de ser,
Espaço misterioso
Entre espaços desertos
Cujo sentido é nulo
E sem ser nada a nada.
E assim a hora passa
Metafisicamente.

(Poema de Fernando Pessoa)
 
 
 
 
Desenho a grafite HB inspirado em trabalho do Pinterest 
 Dezembro 2015 
 
 



quarta-feira, 25 de novembro de 2015

TEMPO...





Trabalho inspirado na "Persistência da Memória" de Dalí
(Pintura a óleo sobre tela/Novembro/2015)(*)



Em certa ocasião alguém perguntou a Galileu Galilei:
 _ "Quantos anos tens?"
 _ "Oito ou dez", respondeu Galileo, em evidente contradição com sua barba branca.
E logo explicou:
 _ "Tenho, na verdade, os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os tenho mais."
 


terça-feira, 3 de novembro de 2015

"O PEDINTE" - "PÁGINAS SOLTAS" - Poema de "ZÉ NINGUÉM"





Trabalho de técnica mista (Malay - 2008)




Sinto vontade de chorar,
mas não de um choro vulgar,
com uma ou outra lágrima.
Não, não é assim!
É um chorar em convulsão,
forte, violento, profundo,
até ficar exausto.
Talvez até nem seja deste Mundo!

Depois, vazio, sereno,
tentar encontrar o motivo,
a razão da tristeza, da solidão
que como uma fonte,
está sempre a nascer
dentro de mim!

Talvez seja, ou talvez não,
a minha condição de pedinte,
de mendigo de amor,
dum carinho, dum beijo,
ou apenas de uma flor!

Eu dei tudo quanto tinha,
ao desbarato,
sem olhar a quem,
nada mais me resta
para dar!
Agora, pobre de tudo
e de sacola vazia,
sem nada de ninguém,
sem mais nada para dar,

Dão-me a mim,
por esmola,
um beijo que nada promete.
Mas mesmo assim,
guardo-o
na minha sacola!



(Poema de Zé Ninguém)


"PELO NATAL" - "PÁGINAS SOLTAS" - Poema de "ZÉ NINGUÉM"



Trabalho de técnica mista (Malay/2008)



Confortaste a minha alma muito triste,
com lágrimas a querer sulcar meu rosto,
pelo sofrimento a mim mesmo imposto,
sem lembrar-me de ti, que em ti existe.

Um coração de amor que 'inda persiste
no silêncio, sofrendo seu desgosto,
deste mal que por mim lhe fora posto,
triste mal, que de dor em si consiste.

Assim se peca, assim se é pecador!
E quem perdoa os pecados meus,
que perdoa assumindo a minha dor,

que esquece os sofrimentos que são os seus,
tem do que eu, p'ra dar, muito mais amor
e mais do que eu, estará perto de Deus! 



(Poema de Zé Ninguém)


 

"VIVENDO A VIDA NOS TEUS OLHOS" - "PÁGINAS SOLTAS" - Poema de "ZÉ NINGUÉM"




  
Trabalho de técnica mista (Malay/2008)



Esses olhos castanhos tão brilhantes,
tão vivos e raiados de esperança,
encerram inocência de criança,
num brilho parecido aos diamantes.


          São como os olhos meigos dos amantes,
          jurando sempre eterna uma aliança,
          numa volúpia de prazer que cansa,
          que dura apenas uns breves instantes...


Essa chama que arde o coração,
quando os olhos o fazem em ferida,
mostrando do amor a ilusão.


          Do nascer e morrer vivendo a vida,
          no prazer, na sublime sensação
          de amar uma ilusão muito querida.




(Poema de Zé Ninguém)


(Desenho a caneta - Malay/Outº/2015)




"ESQUECIMENTO?" - "PÁGINAS SOLTAS" - Poema de "ZÉ NINGUÉM"



  
Trabalho de técnica mista - (Malay/2008) 



Venho dizer-te que não me esquecia
dos versos que são teus, da poesia
que não é minha, e desta fantasia
que em verso para ti eu escrevia!

          Eu volto a ti: __ não cuides que morria
          em mim, que me esquecia um só dia,
          da silenciosa e doce alegria
          que esse teu olhar tem por companhia!

Não, amor. __ Havia em nós um desejo!
Tu e eu, qualquer de nós tinha medo.
Mas desejava, buscava o ensejo;

          ... e o olhar pedia que viesse cedo
          o momento do nosso amor num beijo,
          jurar este amor nosso que é segredo!




(Poema de Zé Ninguém)


"SEM TÍTULO I" - "PÁGINAS SOLTAS" - Poema de "ZÉ NINGUÉM"




Trabalho de técnica mista (Malay/2008)



A vida
querida
me prende
e obriga
a andar
assim
fugindo
'squecido
de mim,
na ânsia
de abraços,
sorrindo
chorando,
seguindo
teus passos...


... a sombra
de sonho
a sombra
da lua,
a graça
que passa,
a graça
que é tua!...




(Poema de Zé Ninguém)




"OS TEU OLHOS!" - "PÁGINAS SOLTAS" - Poema de "ZÉ NINGUÉM"





Quem não compreende um olhar tão pouco compreenderá uma longa explicação



C apazes são de sonhar
A olhar a minha vida!...
R ezando talvez por mim,
M esmo rezando a chorar,
I sso sei minha querida.
N ão te posso a ti negar...
D eixas ficar esquecida,
A vida, no teu olhar!...



(Poema de Zé Ninguém)




 
Desenho de um olho a caneta 0.2 inspirado em trabalho retirado do Pinterest
(Malay - 12/10/15)