sexta-feira, 26 de outubro de 2018

BALOIÇOS - OS DE ONTÉM E OS DE HOJE





Quando a idade avança os esquecimentos vão sendo cada vez maiores: o que comi ontem, onde deixei as chaves, já tomei o comprimido?… Chegamos ao ponto de cantarolar as canções da nossa infância sem que se "justifique", de repisar os episódios que já estavam esquecidos no passado… Mas, por vezes, a visão do presente, faz-nos voar no tempo e lembrar pequenos nadas que, hoje, para nós são tanta coisa… São coisas que nunca são esquecidas e nos trazem tanto conforto e o sentimento de carinho por um tempo que fica gravado na nossa memória, qualquer que seja a nossa idade e o estado do nosso consciente. É isso que queremos deixar aos nossos filhos, aos nossos netos e aos nossos alunos, (embora os tempos possam ser diferentes), essas doces recordações que ficam para toda a vida.




Éramos pequenitos… 5,6 anos. A casa de um só piso térreo estava envolta por um pequeno paraíso: o espaço onde construímos com o nosso pai uma pequena horta com as cenouras que mal deixávamos crescer ou lavar para as poder comer; os limoeiros aos quais subíamos para apanhar os limões que adoçávamos com o açúcar que trazíamos em pacotes de papel pardo que íamos buscar à mercearia do fundo da rua; o galinheiro onde tínhamos as galinhas que vimos irromper dos ovos juntamente com a ajuda da nossa mãe; a rua que partilhávamos com os miúdos da vizinhança...

Mas… mágica, mágica… era a nossa árvore imensa que chegava ao telhado da casa e foi palco de muita fantasia. Tinha uma copa frondosa com ramos grossos dos quais pendiam duas cordas que sustentavam uma tábua __ era o nosso baloiço!...






Aqui os baloiços são diferentes. Servem a miúdos e a graúdos. São estudados. Foram feitos cálculos quanto aos materiais adequados, quanto à sua resistência, quanto à mecânica dos equipamentos. São feitos estudos ergonómicos e arquitectónicos. Tudo pensado numa dinâmica urbana. O cinzento, a pedra, a madeira, o metal... O ângulo certo, a altura devida, o número de argolas, as estacas…


Nestes baloiços não há improvisos. Servem para a pequenada do número 10 do 4º direito e do 5º esquerdo se juntar rodando pelos aparelhos que estão dispersos de forma agradável num parque que se disponibiliza para todos. Sim… porque, durante o fim de semana, os pais ou a vizinha do R/C esquerdo que não têm oportunidade de o fazer durante a semana, podem também eles ir praticar alguma actividade física em corridas e flexões para perderem os quilitos acumulados ao computador e nos almoços de trabalho. E, quando a respiração é ajudada pelas agulhas dos pinheiros, o efeito é redobrado.


Só há um pequeno senão… uma coisa que não os deixa ser tão "mágicos"… __ não foram feitos quando tínhamos 5,6 anos pelo nosso pai com a nossa ajuda para pendurar as duas cordas do ramo da árvore junto à casa e encontrar o ponto certo do equilíbrio da tábua.

Os nossos filhos, os nossos netos e os nossos alunos não terão a visão de uma árvore frondosa com duas cordas pendentes que faziam de baloiço. Mas, certamente, que terão a recordação de parques ergonómicos em que os seus pais, avós e professores tinham tempo para os acompanhar criando momentos que para sempre serão um pequeno tesouro e um refúgio nos momentos de maior turbulência. Quem sabe, um dia, já velhinhos, não são essas histórias e esses momentos que vão repisando e lhes vão dando alento para enfrentar uma fase da vida em que já não podem andar de baloiço. São esses pequenos nadas que vão passando de geração em geração e que temos que ter tempo para dar.





(Fotografias tiradas no Parque do Junqueiro - Parede/Cascais)








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