domingo, 28 de julho de 2019

PENUGEM BRANCA





A vida retomou o seu ritmo normal. Acenderam-se as luzes da varanda, as duas velas da mesa posta como se fosse um dia de festa, para se celebrar um aniversário e uma conquista na escola, apesar da saudade que ele nos deixou com a sua partida. A penugem voltou a aparecer, agora caída no chão da varanda. Desta vez não fugiu. Veio ter à minha mão. Foi só agarrá-la. Está guardada em lugar seguro. A  alma está liberta e partiu, mas anda por perto tomando conta dos seus. Será uma estrelinha no Céu, uma penugem branca que afinal decidiu ficar ou um lugar cativo no nosso coração que baterá sempre forte enquanto restar a sua lembrança até ao fim dos nossos dias?... O que quer que seja tem o valor de um tesouro guardado como tantos outros ainda que o sejam só para nós. 



Penugem branca leve, leve,leve, 
que no ar balança e depressa foge,
para mais tarde aparecer,
agora branda deixando-se apanhar.
Deixando-se afagar
num suave bailar!


Foi naquele momento, na sua dança etérea,
de imparável movimento,
Que nos anunciou em forma de matéria,
que a sua alma tinha partido.
Mesmo para quem supostamente nunca mais a veria,
Mas a sentia viva e pulsante de companhia.

Penugem branca, delicada renda,
que em suave afago,
 me lembras a hora dessa partida, 
já depois das dez e meia da noite,
 no momento da nossa chegada a casa sua...

Deixaste-me em suspenso por dias,
 até ao momento em que iluminámos a varanda 
e voltámos a encarar a vida com o seu ritmo normal.

Suave matéria, penugem branca,
que traz o alento de continuar a vida ...
como se fosse Natal neste dia,
Mas o Natal que Ele tanto queria e defendia.
O Natal da presença amiga, da partilha do pão,
Da verdadeira aceitação e humildade...
"jocking"... mas sem maldade.

Fica a saudade...
Mas a vida continua,
Tal era a vontade sua...


(Fonte de inspiração, o poema "Espuma" de Afonso Lopes Vieira)





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