sábado, 6 de janeiro de 2018

O CANAVIAL E AS CRISTAS DE GALO - RECORDAÇÕES DE INFÂNCIA




Rio Limpopo

João Belo, Gaza, Moçambique


Anos 60... João Belo, pequena cidade  moçambicana por onde passa tranquilo o Rio Limpopo e que hoje é uma cidade com ruas alinhadas e alguns prédios... era então pequena cidade e nela predominavam casas de um só piso.


Em terras de Moçambique, aquela  casa térrea rodeada por um grande quintal era um manancial de brincadeiras e aventuras. Na pequena horta fértil e semeada por nós cresciam cenouras que, apanhadas directamente da terra, eram lavadas e comidas mesmo ali. No quintal, um dos galhos da frondosa árvore lateral à casa, servia de suporte ao baloiço improvisado pelo nosso pai com cordas e uma tábua e que fazia as delícias da criançada. No galinheiro, ao fundo do quintal, cacarejavam as galinhas acompanhadas do imponente galo que vimos irromper dos ovos com a ajuda da nossa mãe. No outro lado da casa, uma correnteza de limoeiros fornecia-nos os limões que apanhávamos dos seus ramos e comíamos com o açúcar que comprávamos na mercearia do fundo da rua em pacotes de papel pardo, juntamente com os miúdos da vizinhança. Vizinhança nos quintais da qual fazíamos concursos de apanha de nêsperas encarrapitados nas árvores... 

Era o tempo em que nos envolvíamos numa infinidade de brincadeiras e actividades ao ar livre que ainda hoje estão gravadas na minha memória e que partilhávamos com os miúdos da rua. Uma delas era particularmente entusiasmante e até mesmo relativamente arriscada __ era a "pescaria" no riacho que corria por trás das nossas casas, ladeado por canaviais junto à água e onde improvisávamos as nossas "canas" que nada pescavam a não ser a emoção de uma "aventura" um pouco à margem da autorização dos adultos.


Sim... era um tempo em que os miúdos brincavam na rua e partilhavam os seus quintais. Em que os "perigos" não assustavam os pais como hoje acontece quando, muitas vezes, as crianças mal conhecem os vizinhos dos seus prédios ou moradias.


Fica a saudade de um tempo em que brincar fora de casa não fazia temer o coração dos pais que controlavam os movimentos dos filhos q.b. , ainda mesmo com um pequeno curso de água perto de casa ladeado por canaviais. Canavial em que, as cristas de galo nele dispersas, com as sua flores de um vermelho exótico, seriam o único resultado da "pescaria" improvisada... Cristas de galo essas que me despertam memórias de uma infância despreocupada.   



Crista de galo


(Fotos retiradas da NET)




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